Caros amigos
Já faz bastante tempo que o
problema da água vem sendo recorrente nas últimas décadas, em diversas partes
do planeta. Para o nordestino do semiárido e do árido que sempre conviveu com a
escassez de água, o sofrimento vem se intensificando com períodos de seca cada
vez mais prolongados. E nos locais privilegiados pela abundância, a falta d’água
que parecia uma utopia de algum ambientalista lunático, vem sendo cada vez mais
uma realidade assustadora.
Contudo em um planeta tão
desigual, é claro que as primeiras pessoas a sofrer com essas mudanças fazem
parte das classes afetadas pela pobreza e marginalização. Talvez por não
atingir de forma mais direta na sobrevivência dos grupos privilegiados, esses
não se importam tanto com tais mudanças ambientais. O imediatismo, o egoísmo
exacerbado e a avidez pelo capital tiram muitos do foco da realidade, deixando
à míngua aqueles que precisam de uma relação íntima com a natureza para
sobreviver; aqueles que necessitam da terra irrigada para cultivar seus alimentos,
dos rios cheios para saciar seus animais e realizar atividades básicas de sobrevivência,
como produzir, cozinhar, banhar-se. Esses são os mais atingidos inicialmente, e
não ter água significa não sobreviver.
Então, emergem campanhas contra o
desperdício a fim de poupar as usinas de abastecimento e garantir água para
todos. O racionamento, realidade vista até então no nordeste, se estende pelo
sudeste em sinal de alerta.
Precisamos acordar! Educadores, leitores,
formadores de opinião, precisamos promover campanhas não apenas de educação
doméstica, mas sobretudo de uso racional da água nas grandes indústrias, nos
grandes hotéis, nas casas mais ricas. Esses sim, desperdiçam litros e mais
litros de água sem necessidade, pois poderiam investir em outros meios para
reciclar esse bem precioso e evitar o desperdício, mas se negam a perder seus
costumes viciosos e gastar um pouco mais com novas tecnologias.
Acredito que onde menos se gasta
é onde mais se faz campanha: nas residências da população mais pobre, nas
escolas públicas e nos bairros populares. Ou melhor, fazia, porque há tempo não
vejo nenhuma dessas campanhas em canto algum.
As opiniões controvérsias alegam:
como irá acabar a água se ela compõe 71% da superfície do planeta? Respondemos
com outras perguntas: Dessa quantidade absurda, quanto se tem de água potável?
Como é distribuída e utilizada? Quanto se polui os rios e suas nascentes, os
solos e lençóis freáticos no mundo? Como a água se defende dessa poluição e uso
irracional? Como o povo se defende dos verdadeiros cartéis que tentam controlar
a água no mundo?
Dos 71% de água que cobre a superfície
da Terra, 97, 4% está em estado líquido, nos oceanos. 2, 6% é composto por água
doce, ou seja, a água encontrada nos rios e lagos, com baixa concentração de
sais. Além disso, 1,8%, em média da água doce do planeta está em estado sólido.
Dessa forma, a água doce no mundo
corresponde a apenas 1% da água do planeta. Imagina que desses 1% uma
quantidade absurda é desperdiçada, vira esgoto e polui os mananciais. E desses,
pouco é reaproveitado com medidas de despoluição? Quanto resta de água potável
no mundo? E para onde essa água vai? Porque a população pobre do planeta é a
primeira a sofrer com a falta d’água? E a pergunta mais importante: o que fazer
para reverter esse quadro?
Queridos, estas e outras
perguntas são respondidas por Barlow no livro Água: futuro azul, mais um
presente da M. Books. A obra, traduzida por Jorge Ritter traz uma abordagem
bastante detalhada sobre a crise mundial da água, com um diferencial: aponta as
soluções.
A partir do viés dos 4 princípios
fundamentais, são abordadas as questões referente aos direitos humanos e aos
direitos da água, como a relação entre a sua distribuição e a divisão de
classes; o financiamento dos recursos hídricos para uso domestico; a água como
propriedade pública e a água como mercadoria.
Em seguida é discutido de maneira
bem explicativa e clara, o problema da água na atualidade, em todos os
continentes. São abordados o controle corporativo da agricultura e a extinção
da água e o controle da energia como fator de escassez da água.
Como não basta nos situar diante
do problema, o livro disponibiliza as soluções, apontando os acordos e tratados
internacionais, os movimentos ambientalistas, as atitudes das Nações Unidas. Em
seguida nos coloca no lugar de interação com a água, como um direito essencial
à vida. Para tanto, propõe a nova ética da água, que implica em viver junto com
os recursos hídricos de maneira racional e sustentável. Para tanto, adverte
sobre a necessidade da criação de uma economia justa, que proteja e fiscalize a
natureza, rejeite as minerações, crie novas formas de produzir alimento, criando
políticas de paz, que promovam a interdependência para o compartilhamento do
recurso de onde emerge a vida e que a ela sustenta em todas as suas formas.
A seguir, alguns trechos da obra:
Sobre a indústria, a economia e os refugiados da água:
A riqueza e a renda extremas são economicamente ineficientes, politicamente corrosivas, socialmente divisoras e ambientalmente destrutivas (p. 21).
A lição que todos nós aprendemos quando crianças – que não podemos ficar sem água em virtude do funcionamento interminável do ciclo hidrográfico – simplesmente não é verdade. Embora a água ainda esteja no planeta em algum lugar, por causa do nosso manejo das reservas de água mundiais para promover o desenvolvimento industrial, ela não é potável ou não está no lugar certo. Como consequência, muitas comunidades estão ficando sem água limpa acessível. Nós, humanos, estamos administrando e distribuindo mal a água, além de poluí-la em escala alarmante (p. 23).
Nenhum lugar da terra estará livre das consequências da crise da água que está se desenrolando agora. Mesmo se nós começarmos a reduzir a marcha do dano que criamos, desafiando o imperativo do crescimento e adotando práticas de conservação da água, é crucial que estabeleçamos regras de equidade e justiça em torno da questão do acesso. De outra maneira, cada vez mais veremos um mundo profundamente dividido entre aqueles com acesso à água limpa e aqueles sem – literalmente um mundo dividido pelo direito de viver (p.28).
Sobre o direito à água:
A água é um bem comum como o ar ou uma mercadoria, como a Coca-cola? (p.29)
Sobre as medidas estabelecidas pela Assembleia Geral da ONU em 2010, para
que os estados e nações se comprometam em “fornecer água potável própria,
limpa, acessível e com um preço razoável, assim como saneamento para todos”:
Cento e vinte e oito países inclusive [...] Brasil, apoiaram a resolução. [...].
Os países que se opuseram à questão na realidade não votaram contra ela; em vez disso, eles se abstiveram. [...] Apesar disso, os países que se abstiveram fizeram uma série de discursos irados após o voto, acusando a Bolívia de forçar um voto que ninguém estava pronto para fazer. Sólon ficou parado com seus braços cruzados no peito e um leve sorriso no rosto, deixando que a amargura passasse ao largo dele como o vento (p. 39).
Sobre a água como um direito ou como um bem de consumo:
A água é um direito humano e um serviço público, mas não pode haver direito humano à água se alguns podem apropriar-se da água para o lucro enquanto outros vivem sem acesso a ela (p. 61).
Sobre a privatização da água:
As taxas de água pagas pelos cidadãos na Grã-Bretanha, assim como os lucros obtidos pelas corporações dispararam desde que Margaret Thatcher introduziu a privatização da água em 1989. Vinte e uma empresas privadas forneceram todos os serviços hídricos na Inglaterra e País de Gales, e elas obtiveram um lucro pré-impostos de mais de 2 bilhões de euros em 2011 (p. 109).
Sobre o uso dos biocombustíveis:
O Brasil e os Estados Unidos produzem quase 90% dos biocombustíveis do mundo. O Brasil é o principal exportador de etanol da cana-de-açúcar, e a maioria dos carros no Brasil anda hoje com uma mistura de etanol e gasolina [...]
É necessária uma grande quantidade de água para produzir esse biocombustível. [...] Atualmente 7 trilhões de água são extraídos todos os dias para produzir etanol no Brasil [...]
A produção de biocombustível no Brasil destrói as florestas, que são cortadas para abrir caminho para vastos campos de cana-de-açúcar; ameaça a vegetação e a Bacia do Rio Amazonas; e contamina a água e o solo com fertilizantes químicos (p.165).
A água pode ser a dádiva da natureza para a humanidade, de maneira que ainda não entendemos (p.262).
Então, que tal fazermos essa
leitura e tantas outras sugeridas por Maude Barlow? Que tal nos enveredarmos no
entendimento da nossa relação com a água, fomentando propostas de mudança e
atento aos nossos governantes, suas intenções e políticas?
O que você pode fazer agora para
ajudar a água a seguir seu curso na manutenção da vida?
Para todos, ótima leitura e
muitas atitudes água.
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